3/10/2013

COMETA PANSTARRS: OBSERVAÇÃO A OLHO NU DESDE A BAHIA - 09/03/13

Olá, pessoal!

Ontem e hoje¹ foram dias muito marcantes para mim. Ontem, pela primeira vez em meses eu senti a maravilhosa sensação de andar novamente, sem precisar de cadeira de rodas ou muletas. Uau! Que experiência. E isso é só o início. Estou em tempo de reaprender a andar. Aliás, sobre meus últimos meses, eu sintetizaria com uma frase do poema Mar Português, de Fernando Pessoa, já citado anteriormente em nosso blog: Tudo vale a pena se a alma não é pequena. Agradeço a todos que de uma forma ou de outra estiveram torcendo por minha recuperação. 

Mas, na verdade, estou dando essa passada rápida pelo nosso blog, para registrar que  hoje, durante o crepúsculo vespertino, pude observar a olho nu o cometa Panstarrs (C/2011 L4), desde a cidade do Salvador.

Após o ocaso do Sol, o primeiro astro a surgir foi Júpiter, ao norte do zênite, com o céu ainda azul claro. Pouco tempo depois foi a vez de Sírius, bem próximo ao zênite, no sudeste alto. Depois Canópus, mais ao sul, e Capella, linda, cintilante, ao norte. O oeste estava limpo, livre de nuvens e com pouca matéria em suspensão no ar. As condições de observação, apesar da luminosidade da cidade, eram boas.

As silhuetas dos edifícios foram ganhando janelas luminosas, e ao fundo, os tons vívidos do crepúsculo, vermelho, laranja e amarelo, aos poucos douravam o ocidente. Acima desse gradiente encarnado, uma faixa lívida limiava com o derradeiro azul do dia, quase virado em lilás.   

Meu momento favorito do dia, o crepúsculo vespertino. Fiquei ali, perscrutando o céu a procura de uma pedrinha de gelo, com cabeleira e cauda. Um raio rosa vazou da região zodiacal rumo ao zênite, e uma linda luz esverdeada se concentrou no horizonte oeste. Sobre minha cabeça, no centro da abóboda celeste, surgiu Rigel (beta orionis), depois Betelgeuse (alfa orionis). Pouco depois foi a vez de Aldebaran (alfa tauri), que esperei e vi chegar, a cerca de 4º graus de Júpiter. No oriente, o céu escurecia lentamente para o tom marinho.

Eu estava ansioso por ver Deneb Kaitos. Sabia que ela apareceria a qualquer momento. No sudoeste, Archenar (alfa eridanii) perdia altura... Então, de repente: - Lá ela! Meus olhos refletiram o brilho recém chegado de Deneb Kaitos... Linda. Sua luz viajou noventa e cinco anos pelo "vazio do espaço" até chegar a Salvador. Quem diz que os astros não influenciam a vida na Terra, nunca se emocionou com uma estrela.

Pois, lá estava a Baleia. Agora era uma questão de tempo para ver, ou não, o Panstarrs. De repente, surgiu uma luminosidade tímida sobre o oeste, entre as contelações da Baleia e dos Peixes. Mantive-me cético e analisei: poderia ser a estrela iota ceti? Esperei. Não, não podia ser a iota ceti, seu brilho é muito débil para ser visto tão próximo do Sol. Também não era Marte, com certeza. Marte não estava visível. E, por fim, não poderia ser nenhuma das estrelas de Peixes que situam-se ali, pelo mesmo motivo que não poderia ser a iota ceti. Não teriam magnitude para serem vistas tão próximas do Sol. Além disso, desde o início, percebi, mas me contive, que se tratava de um astro nebuloso.

As condições de luminosidade do céu e a poluição luminosa da cidade foram fatores adversos, mas mesmo assim, daquele pequeno e nebuloso astro, subia uma tênue cauda alongada em oposição ao horizonte. E eu já não tive mais dúvidas... Era o cometa Panstarrs sobre o horizonte oeste. Permaneci ali, no alto de onde estava. Podia ver o Atlântico entrando na noite, e as luzes da cidade se acendendo no ocidente contra os últimos tons da luz crepuscular. A Terra, girando para o leste, fez o cometa desaparecer contra as silhuetas dos prédios de Salvador. Linda cauda a sua, pedrinha que vôa entre as estrelas da Baleia.

Amanhã voltarei a observar e espero confirmar a observação. Infelizmente, as condições de observação do Panstarrs em Salvador não são favoráveis. Eu precisei buscar um bom local de observação para o oeste, e tive sorte pois as condições atmosféricas ajudaram. Mas, se eu não conhecesse muito bem essa região do céu, eu não saberia distinguir o cometa. Por tanto, não se fruste se você tentar e não conseguir. 

No entanto, de Feira de Santana a observação do cometa Panstarrs tende a ser consideravelmente mais fácil do que em Salvador, pois Feira sofre menos poluição luminosa e está mais alta em relação ao mar. Hoje, ao pôr do Sol, acima do horizonte oeste, entre os tons do crepúsculo e os últimos tons de azul do dia, quem estiver em um local propício, com boa vista para o poente, verá surgir um astro tímido e nebuloso cerca de 10º do horizonte. 

Quem tiver a vista mais apurada, perceberá a cauda, uma mancha alva, tênue e difusa se alongando em oposição ao horizonte. É uma observação difícil de ser feita sem a orientação presencial de alguem que conheça o céu, se você não reunir as condições necessárias para fazer esta observação agora, não se preocupe, você terá outras oportunidades, ainda este ano, especialmente no segundo semestre, quando está prevista a passagem do cometa Ison. Falaremos mais a respeito, em outro momento.

Uma das primeiras coisas que a astronomia nos ensina é ter paciência. Antes mesmo de querer sair comprando um telescópio, você precisa conhecer o céu a olho nu, pois só assim você saberá para onde apontar seu telescópio, quando tiver um. 

Bem, eu passei aqui porque precisava dividir com vocês essa minha observação de hoje.


Um forte abraço a todos!
Fernando      

¹Publicado em 09/03/13 no blog EXPLORANDO O CÉU, adaptado e postado pelo autor para o blog Despertar para a Astronomia, no dia 10/09/13. 

Um comentário:

  1. Cara, eu vi ele na quinta e ontem por um tempo muito pequeno, e difícil, mas vi!

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