A noite de 27 de novembro de
2012 certamente será revivida em nossas memórias por muito tempo. Foi um
momento em que paramos para ouvir nossas crianças falarem sobre planetas, sobre o
Sol e a Lua e as galáxias distantes. A bordo da minha ‘cadeira espacial’, mais
próximo à altura das crianças, em dado momento me senti em meio a uma festinha
de aniversário... Tudo ao meu redor era divertido, era alegria. Para olhar para
os adultos eu precisava virar a cabeça para cima, e até o pé direito do amplo
saguão do Museu Parque do Saber me parecia mais alto... Mas ora, quem diria, aquela
realidade era um sonho esperançoso e belo... Sobre as mesas, ao invés de doces,
havia planetas e luas, e todo o Sistema Solar, mais estrelas e outras guloseimas
científicas, que eu adorei... Era como uma doce e divertida brincadeira, e o
objeto do nosso divertimento era o conhecimento e a astronomia.
Pensei em Newton, em Galileu,
nos mistérios todos que velaram a humanidade durante milênios, sendo ditos
assim, na voz fina e tenra destas gentes tão pequenininhas, com tão poucas
translações, tão ávidas pelo saber... As informações saíam às vezes um tanto
tímidas, outras vezes com grande facilidade. Alguns traziam seus textos na
ponta da língua, outros os traziam com mais paixão, cada um ao seu modo, mas
todos de forma consistente, digna, valorosa. As turminhas do terceiro ano da
Escola Despertar nos mostraram ontem, com simplicidade e consistência, o quanto
tudo vale a pena quando a alma não é pequena. Para mim, visitar as
apresentações, escutar as crianças falarem suas informações, foi o momento mais
especial da noite.
Depois, mesmo com a
luminosidade da cidade e da própria Lua cheia, fomos para o pátio do Museu para
observar o céu. Além da Lua cheia, linda, que ascendia em Touro, pudemos ver as
principais estrelas que estavam no céu no momento, que eram as estrelas Formalhaut, alfa
da constelação do Peixe Austrinu; as estrelas Al Danab e Al Nair, da
constelação do Grou; Archenar, da constelação do Eridanus; Altair e Tarazed, da
constelação da Águia; e além destas, ainda nos esforçamos para observar, em
meio a poluição luminosa, o brilho esmaecido de Deneb Algiedi e Nashira, do Capricórnio,
e Hamal e Sheratan, do Áries.
Mas entre tantas estrelas, o
que mais brilhava eram os olhinhos das crianças ao redor, confortados pela
presença da família, em torno de uma atividade tão salutar, como a contemplação
da natureza. A presença dos pais, mães, avôs e avós, tios e amigos, agregava
muito valor àquele momento.
A certa altura eu perguntei
para que lado girava a Terra, e escutei uma voz de criança responder em um tom seguro e
certeiro: “-Para o Leste!” Em meio a mais de cento e sessenta pessoas, um
menino tinha essa certeza: A Terra gira para o Leste!
Então eu perguntei quem havia
respondido aquilo, e para minha surpresa, junto à parte de trás da minha cadeira,
pronto a ajudar a empurrar se eu precisasse, estava o nosso querido João Francisco,
que foi aluno do Projeto de Olho no Céu na sua primeira edição, em 2010. O João
nunca esqueceu esta importante informação. E a partir daí, tenho certeza de que
ninguém que esteve presente jamais esquecerá que a Terra gira para o Leste,
porque, como nós falamos, se um dia ela mudar de direção, seremos todos os
primeiros a saber, não é mesmo? :)
Então entramos para
dar início à sessão na cúpula do Planetário. Uau! Lotamos as 165
poltronas, e outras muitas crianças preferiram o conforto do colo dos pais. O
Planetário do Museu Parque do Saber Dival da Silva Pitombo estava feliz, pleno,
realizado em seus objetivos.
Nossa querida coordenadora
Izabella Saback iniciou a apresentação, agradecendo pela presença de todos e ao Museu, representado pelo planetarista Fábio Ramos, pela especial disponibilização do espaço para a Mostra, e nos falou um pouco sobre o "Projeto de Olho no Céu", em sua terceira edição. Então foi a vez das professoras Anne, Emilia e Emili, que parabenizaram suas respectivas turmas, agradecidas pelo empenho e receptividade demonstrada em torno do assunto.
Chegou a minha vez, e com um
microfone sem fio em uma mão e um apontador lazer
na outra, esqueci-me que estava a bordo de uma cadeira de rodas, e me senti
viajando no céu... Até agora eu fecho os olhos e lembro-me da cúpula do
Planetário estrelada, e do quanto me parecia grande o significado de estarmos
ali. Com os recursos da tecnologia do planetário Carl Zeiss, no conforto daquele
prédio imenso e sofisticado, nos dedicamos a uma atividade tão atávica quanto a
observação do céu.
Viajamos virtualmente para fora
do nosso planeta, vimos a Terra do espaço, a dicotomia entre o dia, iluminado
pelo Sol, e a noite, imersa na umbra da Terra, onde as grandes cidades se
pareciam com ilhas de luz. Demos um
passeio pela Europa, o norte da África, vimos o curso do rio Nilo, a imensidão
do Saara. Atravessamos o Atlântico e vimos as luzes de Salvador, tão fácil de
achar por sua peculiar geografia, e ali ao lado da Capital da Bahia,
distinguimos as luzes de nossa querida Feira de Santana, pórtico para o sertão.
Depois fomos à Lua, vimos o Mar
da Tranquilidade, onde pousou a Apollo 11, pudemos ver a cratera de Copérnico
se elevando iluminada sobre o Oceano Procellarum, que é a depressão mais
extensa da Lua, e seguimos para Marte, depois para Júpiter, até chegarmos no ‘Senhor
dos Anéis’, lindo Saturno.
Então partimos em uma jornada
pelas estrelas, até os confins de nossa Galáxia, e a deixamos, e vimo-la de
fora, e ao olhar ao redor, contemplamos uma imensidão de galáxias, formando uma
superestrutura de conglomerados galácticos ligados por filamentos de galáxias,
esboçando a feição de uma rede neural... Sim, de certa forma, observar o céu é
olhar para dentro de nós mesmos. É conhecer um pouco sobre nossa própria
origem, e diante da grandeza do Universo, não sentirmo-nos pequenos ou oprimidos, mas
antes sim, sentirmo-nos parte dessa grandeza.
Assim, alcançamos o cume da III Mostra de Astronomia das turminhas de terceiro ano da Escola Despertar com uma
retumbante e contagiante salva de palmas.
Ao sairmos, como havia sido
dito durante a atividade, Júpiter nos esperava próximo à Lua, ganhando altura
no oriente, ajudando a Lua a iluminar nosso caminho de volta pra casa.
Hoje, tenho certeza, muitos de
nós, nos mais diferentes pontos da cidade, estaremos reunidos novamente sob o
mesmo céu, para observarmos a linda conjunção entre Júpiter e a Lua.
Agradeço a todos mais uma vez,
especialmente a nossa coordenadora Bella e à direção da escola por acreditar em
um Projeto considerado tão vanguardista para a faixa etária, e agradecer
especialmente às crianças por todo o carinho e atenção que me dispensaram e aos
pais, cuja presença nos fortaleceu.
Desejo a todas as crianças ótimas
férias, e um mês de dezembro cheio de observações do céu!
Forte abraço a todos.
Fernando H. Munaretto
Astrônomo amador