Os seres humanos sempre sonharam em um dia alcançar a Lua.
Era um sonho tão antigo quanto os primeiros sonhos do mundo, e não importava se
parecia impossível.
Ao longo da história cada povo desenvolveu suas próprias
lendas e mitos envolvendo a Lua, e com o passar do tempo fomos acumulando muitos
conhecimentos através de observações contínuas; fizemos mapas do céu, passamos
a entender os motivos das fases lunares e a prever os eclipses. Quando nossos
ancestrais entenderam que um eclipse lunar era causado pela sombra da Terra
incidindo na Lua, viram que a sombra da Terra era a de um corpo redondo, muito
maior que a Lua. Mesmo sem entender exatamente os motivos, nossos ancestrais perceberam que as marés estavam relacionadas às fases da Lua.
Observações perspicazes como estas não eram apenas fruto de
contemplação; estas observações e conhecimentos sobre a mecânica celeste
proporcionam prever uma série de acontecimentos fundamentais para qualquer
civilização, como por exemplo, a determinação das estações do ano e a computação do tempo. Até hoje, a agricultura depende de um
calendário. Não adianta o agricultor plantar a semente na época da seca, por
exemplo. Ele precisa saber a época certa de plantar.
Diferentes civilizações, desde os antigos sumerianos,
egípcios, chineses, gregos, romanos, maias, astecas, incas, e outras
civilizações espalhadas pelo globo terrestre, foram capazes de fazer grandes
descobertas a partir da observação a olho nu e da matemática.
Na segunda metade do século dezesseis, um grande astrônomo
dinamarquês chamado Tycho Brahe (1546-1601), destacou-se por suas observações
astronômicas. Ele computou uma série de dados observacionais do planeta Marte e
de outros astros, que eram muito precisos e cobriam longos espaços de tempo.
Tycho Brahe era um homem muito rico e tinha acesso ao que havia de melhor na
época, relacionado à astronomia.
Um dia ele chamou para ser seu assistente um astrônomo e matemático
alemão muito talentoso, chamado Johannes Kepler (1571-1630). Kepler vinha de
uma família humilde, mas era um jovem dedicado.
No longínquo ano de 1609, usando os dados observacionais de
Tycho, Kepler descobriu como calcular a órbita dos planetas em torno do Sol, e
da Terra em torno da Lua. Esse foi um primeiro grande passo para realizar a
viagem para a Lua!
Além disso, naquele mesmo ano, outro astrônomo, chamado
Galileu Galilei (1564-1642), fez observações da Lua através de um telescópio
que permitia ver montanhas e depressões na Lua, e centenas de
crateras. Além disso, Galileu observou que Júpiter também possuía quatro
satélites naturais, que deveriam ser suas próprias luas (e realmente são; três
delas tem o tamanho aproximado da nossa Lua).
Galileu observando a Lua
Isso só alimentou ainda mais o sonho humano de viajar para a
Lua. Histórias fantásticas eram escritas e vendidas, aonde seres humanos
chegavam à Lua levados por animais alados e outros tipos de encantamentos. O
próprio Kepler chegou a escrever uma história de ficção que narrava uma viagem
para a Lua através de um destes meios fantásticos.
Anos depois, em 1687, outro astrônomo e físico
inglês, chamado Isaak Newton (1643-1727), descreveu uma teoria de gravitação e
um enunciado de leis que completava e ampliava o trabalho teórico de Kepler. A
partir daí, era só uma questão de tempo para os seres humanos desenvolverem a
tecnologia capaz de realizar a viagem para a Lua.
Isaak Newton
Em 1865, o escritor francês Julio Verne lançou um livro
chamado “Da Terra à Lua”. A história é muito legal, eu recomendo a leitura.
Julio Verne gostava muito de astronomia, estava a par do conhecimento
astronômico de sua época e previu vários aspectos dos primeiros voos espaciais.
No romance de Julio Verne, os astronautas alcançam a Lua
através de uma nave muito parecida com um foguete, que Julio Verne chamou de
Colúmbia, em homenagem a Colombo; só que como ainda não tinha sido inventada a
propulsão a jato, a nave de Verne é lançada por um super canhão.
Além disso, Verne previu que seriam três tripulantes; que a
nave se dividiria em estágios ao longo da viagem; que seria os Estados Unidos o
país responsável pela missão; que o lançamento seria da Flórida, bem pertinho
de onde foram lançados, cem anos depois, os foguetes que de fato levaram os astronautas para a
Lua, e que, ao retornar, a cápsula com os astronautas cairia no
mar e seria resgatada pela Marinha.
A imagem da
esquerda mostra o módulo de comando da nave-míssil que levaria os primeiros homens à Lua no romance de Julio Verne. A
foto da direita mostra o módulo de comando e serviço do foguete Saturno V da
Nasa, içado no angar. Julio Verne não
era nenhum adivinho, mas estava por dentro do conhecimento teórico de sua
época.
Nos anos de 1940 a propulsão a jato se tornou uma realidade
na Alemanha, principalmente devido aos esforços de um engenheiro de foguetes
alemão chamado Werner Von Braun (1912-1977). Desde a adolescência Von Braun fazia parte de clubes de fabricantes e lançadores de foguetes caseiros. Ele sabia que a propulsão a jato seria capaz de levar o ser humano para a Lua, mas ele também sabia que isso era caro, e ninguém iria comprar o seu projeto de ir para a Lua. Então Von Braun adaptou seu projeto para os interesses militares do exército alemão, conseguiu vender seu projeto e desenvolveu os primeiros foguetes a jato.
Foram tempos muito difíceis aqueles, vários países estavam envolvidos em uma guerra, que ficou conhecida como a Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Quando os exércitos perceberam as vantagens da propulsão a jato, começaram a investir nesta tecnologia. Nos anos de 1950 os russos e os norte-americanos iniciaram uma corrida para dominar a tecnologia espacial.
Os norte-americanos tinham mais recursos financeiros, mas estavam muito atrás
dos russos em termos de pesquisa e conhecimentos. O projeto da Marinha americana de lançar seu primeiro satélite, com cerca de oito quilos, parecia que ia naufragar.
Enquanto isso, liderados pelo engenheiro de foguetes Sergei Korolev (1906-1966), os russos estavam prestes a lançar seu primeiro satélite, que pesava mais de oitenta quilos (o foguete que o colocaria em órbita, poderia levá-lo mesmo que o satélite pesasse cinco vezes mais). No ano de 1957, os russos conseguiram colocar o primeiro satélite artificial em torno da Terra; chamava-se Sputnik 1.
Primeiro satélite artificial da Terra: Sputnik 1
O
Mundo todo ficou impressionado!
Principalmente os norte-americanos, que ficaram muito incomodados de ter aquele satélite russo passando por cima dos Estados Unidos e fazendo Bip-Bip... Logo em seguida os russos começaram a enviar cachorros para o espaço. Os primeiros vinte e oito cachorros enviados morreram, mas finalmente os engenheiros russos passaram a dominar as técnicas de sobrevivência e começaram a trazer os cachorros de volta, vivos. Foram quase quarenta missões tripuladas por estes cachorros heróis. Os norte-americanos por sua vez, usavam chipanzés em seus testes.
Cadelinha “Crespinha”, da raça Laika: primeiro ser vivo a ir
para o espaço
A Rússia, que na época chamava-se União Soviética, se
mantinha na frente da corrida espacial. A fase de enviar cachorros acabara; era
a hora de ousar e correr maiores riscos.
Em 12 de abril de 1961, o foguete Vostok 1 foi lançado de
Baikonur, no Cazaquistão, com um ser humano a bordo. Ele se chamava Yuri
Gagarin (1934-1968), e deu uma órbita completa em torno da Terra em sua nave,
antes de aterrissar são e salvo.
Yuri
Gagarin: primeiro humano a ir para o espaço
Quando isso aconteceu, os Estados Unidos, liderado pelo
presidente John Kennedy (1917-1963), resolveu que era hora do país entrar com
toda a sua força na corrida espacial e passar na frente dos russos. Mandaram chamar o Von Braun e ele disse que se o governo entrasse com todo o recurso necessário, era possível colocar um homem na Lua.
Naquele ano, com o apoio do Congresso e da opinião pública, o presidente Kennedy pronunciou um importante e histórico discurso e apareceu na televisão dizendo que até o final daquela década os Estados Unidos levariam o homem à Lua. Nos meses seguintes à viagem de Gagarin, o Congresso Nacional dos Estados Unidos liberaram os primeiros recursos para o desenvolvimento do Projeto Apollo, que seria responsável por construir os meios para a viagem à Lua.
Kennedy e Von Braun ao lado da maquete de um foguete Saturno
V.
A partir daí, a indústria astronáutica deu um grande salto e
se fortaleceu naquele país. Havia interesse e recursos para tirar os projetos
do papel.
Mas não foi nada fácil, pelo contrário, foi tudo muito
difícil, muitas coisas deram errado. Era preciso aprender a fazer uma coisa que
nunca tinha sido feita antes. Além disso, o projeto era caro e perigoso, muitos
e muitos foguetes explodiram ainda em solo, no lançamento ou no ar, e alguns
astronautas e trabalhadores perderam suas vidas. Um exemplo famoso foram os
três astronautas da Apollo 1, vítimas de uma explosão durante a
fase de testes. Foi um longo caminho até as primeiras naves não tripuladas
conseguirem chegar à Lua.
Mesmo assim, as primeiras a chegarem foram naves russas. Por
mais que os norte-americanos se esforçassem, os russos se mantinham à frente em
vários aspectos da navegação espacial (e se mantém até hoje). Por isso os
russos foram os primeiros a ver o lado oculto da Lua, o lado que fica sempre
virado para o espaço sideral. E também foram russos os primeiros objetos
arremessados na Lua (Missão Luna 2 - 1959).
Eram naves automatizadas, não tripuladas, apenas para
experimentar, aprender, treinar, colher dados, escolher os futuros locais de
pouso para as missões que levariam astronautas.
Mas o Projeto Apollo progredia, e em 1968 a Missão Apollo 8 levou o primeiro astronauta a orbitar a Lua. Depois de muita dificuldade e superação, enfim os norte-americanos estavam no caminho certo.
Chegou então o grande momento, tão sonhado, que parecia tão impossível: a Missão Apollo 11 tentaria levar os primeiros dois astronautas a pisar na Lua.
Aguardem, eu volto para terminar esta história!
Fernando
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