11/21/2012

O DOM DE SONHAR

Uma das coisas que eu mais admiro nos seres humanos é o dom que nós temos de sonhar e realizar os nossos sonhos.





Os seres humanos sempre sonharam em um dia alcançar a Lua. Era um sonho tão antigo quanto os primeiros sonhos do mundo, e não importava se parecia impossível.


Ao longo da história cada povo desenvolveu suas próprias lendas e mitos envolvendo a Lua, e com o passar do tempo fomos acumulando muitos conhecimentos através de observações contínuas; fizemos mapas do céu, passamos a entender os motivos das fases lunares e a prever os eclipses. Quando nossos ancestrais entenderam que um eclipse lunar era causado pela sombra da Terra incidindo na Lua, viram que a sombra da Terra era a de um corpo redondo, muito maior que a Lua. Mesmo sem entender exatamente os motivos, nossos ancestrais perceberam que as marés estavam relacionadas às fases da Lua.


Observações perspicazes como estas não eram apenas fruto de contemplação; estas observações e conhecimentos sobre a mecânica celeste proporcionam prever uma série de acontecimentos fundamentais para qualquer civilização, como por exemplo, a determinação das estações do ano e a computação do tempo. Até hoje, a agricultura depende de um calendário. Não adianta o agricultor plantar a semente na época da seca, por exemplo. Ele precisa saber a época certa de plantar. 


Diferentes civilizações, desde os antigos sumerianos, egípcios, chineses, gregos, romanos, maias, astecas, incas, e outras civilizações espalhadas pelo globo terrestre, foram capazes de fazer grandes descobertas a partir da observação a olho nu e da matemática.


Na segunda metade do século dezesseis, um grande astrônomo dinamarquês chamado Tycho Brahe (1546-1601), destacou-se por suas observações astronômicas. Ele computou uma série de dados observacionais do planeta Marte e de outros astros, que eram muito precisos e cobriam longos espaços de tempo. Tycho Brahe era um homem muito rico e tinha acesso ao que havia de melhor na época, relacionado à astronomia.
Estátua da dupla Tycho Brahe e Johannes Kepler, em Praga
Um dia ele chamou para ser seu assistente um astrônomo e matemático alemão muito talentoso, chamado Johannes Kepler (1571-1630). Kepler vinha de uma família humilde, mas era um jovem dedicado.
No longínquo ano de 1609, usando os dados observacionais de Tycho, Kepler descobriu como calcular a órbita dos planetas em torno do Sol, e da Terra em torno da Lua. Esse foi um primeiro grande passo para realizar a viagem para a Lua!
Além disso, naquele mesmo ano, outro astrônomo, chamado Galileu Galilei (1564-1642), fez observações da Lua através de um telescópio que permitia ver montanhas e depressões na Lua, e centenas de crateras. Além disso, Galileu observou que Júpiter também possuía quatro satélites naturais, que deveriam ser suas próprias luas (e realmente são; três delas tem o tamanho aproximado da nossa Lua).
Galileu observando a Lua
Isso só alimentou ainda mais o sonho humano de viajar para a Lua. Histórias fantásticas eram escritas e vendidas, aonde seres humanos chegavam à Lua levados por animais alados e outros tipos de encantamentos. O próprio Kepler chegou a escrever uma história de ficção que narrava uma viagem para a Lua através de um destes meios fantásticos.



Anos depois, em 1687, outro astrônomo e físico inglês, chamado Isaak Newton (1643-1727), descreveu uma teoria de gravitação e um enunciado de leis que completava e ampliava o trabalho teórico de Kepler. A partir daí, era só uma questão de tempo para os seres humanos desenvolverem a tecnologia capaz de realizar a viagem para a Lua.



Isaak Newton


Em 1865, o escritor francês Julio Verne lançou um livro chamado “Da Terra à Lua”. A história é muito legal, eu recomendo a leitura. Julio Verne gostava muito de astronomia, estava a par do conhecimento astronômico de sua época e previu vários aspectos dos primeiros voos espaciais.

No romance de Julio Verne, os astronautas alcançam a Lua através de uma nave muito parecida com um foguete, que Julio Verne chamou de Colúmbia, em homenagem a Colombo; só que como ainda não tinha sido inventada a propulsão a jato, a nave de Verne é lançada por um super canhão.

Além disso, Verne previu que seriam três tripulantes; que a nave se dividiria em estágios ao longo da viagem; que seria os Estados Unidos o país responsável pela missão; que o lançamento seria da Flórida, bem pertinho de onde foram lançados, cem anos depois, os foguetes que de fato levaram os astronautas para a Lua,  e que, ao retornar, a cápsula com os astronautas cairia no mar e seria resgatada pela Marinha.

A imagem da esquerda mostra o módulo de comando da nave-míssil que levaria os primeiros homens à Lua no romance de Julio Verne. A foto da direita mostra o módulo de comando e serviço do foguete Saturno V da Nasa, içado no angar. Julio Verne não era nenhum adivinho, mas estava por dentro do conhecimento teórico de sua época.
Nos anos de 1940 a propulsão a jato se tornou uma realidade na Alemanha, principalmente devido aos esforços de um engenheiro de foguetes alemão chamado Werner Von Braun (1912-1977). Desde a adolescência Von Braun fazia parte de clubes de fabricantes e lançadores de foguetes caseiros. Ele sabia que a propulsão a jato seria capaz de levar o ser humano para a Lua, mas ele também sabia que isso era caro, e ninguém iria comprar o seu projeto de ir para a Lua. Então Von Braun adaptou seu projeto para os interesses militares do exército alemão, conseguiu vender seu projeto e desenvolveu os primeiros foguetes a jato.

Foram tempos muito difíceis aqueles, vários países estavam envolvidos em uma guerra, que ficou conhecida como a Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Quando os exércitos perceberam as vantagens da propulsão a jato, começaram a investir nesta tecnologia.
Nos anos de 1950 os russos e os norte-americanos iniciaram uma corrida para dominar a tecnologia espacial.
Os norte-americanos tinham mais recursos financeiros, mas estavam muito atrás dos russos em termos de pesquisa e conhecimentos. O projeto da Marinha americana de lançar seu primeiro satélite, com cerca de oito quilos, parecia que ia naufragar.
Enquanto isso, liderados pelo engenheiro de foguetes Sergei Korolev (1906-1966), os russos estavam prestes a lançar seu primeiro satélite, que pesava mais de oitenta quilos (o foguete que o colocaria em órbita, poderia levá-lo mesmo que o satélite pesasse cinco vezes mais).

No ano de 1957, os russos conseguiram colocar o primeiro satélite artificial em torno da Terra; chamava-se Sputnik 1.
Primeiro satélite artificial da Terra: Sputnik 1
O Mundo todo ficou impressionado! 
Principalmente os norte-americanos, que ficaram muito incomodados de ter aquele satélite russo passando por cima dos Estados Unidos e fazendo Bip-Bip... 
Logo em seguida os russos começaram a enviar cachorros para o espaço. Os primeiros vinte e oito cachorros enviados morreram, mas finalmente os engenheiros russos passaram a dominar as técnicas de sobrevivência e começaram a trazer os cachorros de volta, vivos. Foram quase quarenta missões tripuladas por estes cachorros heróis. Os norte-americanos por sua vez, usavam chipanzés em seus testes.
Cadelinha “Crespinha”, da raça Laika: primeiro ser vivo a ir para o espaço
A Rússia, que na época chamava-se União Soviética, se mantinha na frente da corrida espacial. A fase de enviar cachorros acabara; era a hora de ousar e correr maiores riscos.
Em 12 de abril de 1961, o foguete Vostok 1 foi lançado de Baikonur, no Cazaquistão, com um ser humano a bordo. Ele se chamava Yuri Gagarin (1934-1968), e deu uma órbita completa em torno da Terra em sua nave, antes de aterrissar são e salvo.
Yuri Gagarin: primeiro humano a ir para o espaço
Quando isso aconteceu, os Estados Unidos, liderado pelo presidente John Kennedy (1917-1963), resolveu que era hora do país entrar com toda a sua força na corrida espacial e passar na frente dos russos. Mandaram chamar o Von Braun e ele disse que se o governo entrasse com todo o recurso necessário, era possível colocar um homem na Lua. 
Naquele ano, com o apoio do Congresso e da opinião pública, o presidente Kennedy pronunciou um importante e histórico discurso e apareceu na televisão dizendo que até o final daquela década os Estados Unidos levariam o homem à Lua.  
Nos meses seguintes à viagem de Gagarin, o Congresso Nacional dos Estados Unidos liberaram os primeiros recursos para o desenvolvimento do Projeto Apollo, que seria responsável por construir os meios para a viagem à Lua.
Kennedy e Von Braun ao lado da maquete de um foguete Saturno V.
A partir daí, a indústria astronáutica deu um grande salto e se fortaleceu naquele país. Havia interesse e recursos para tirar os projetos do papel.
Mas não foi nada fácil, pelo contrário, foi tudo muito difícil, muitas coisas deram errado. Era preciso aprender a fazer uma coisa que nunca tinha sido feita antes. Além disso, o projeto era caro e perigoso, muitos e muitos foguetes explodiram ainda em solo, no lançamento ou no ar, e alguns astronautas e trabalhadores perderam suas vidas. Um exemplo famoso foram os três astronautas da Apollo 1, vítimas de uma explosão durante a fase de testes. Foi um longo caminho até as primeiras naves não tripuladas conseguirem chegar à Lua.
Mesmo assim, as primeiras a chegarem foram naves russas. Por mais que os norte-americanos se esforçassem, os russos se mantinham à frente em vários aspectos da navegação espacial (e se mantém até hoje). Por isso os russos foram os primeiros a ver o lado oculto da Lua, o lado que fica sempre virado para o espaço sideral. E também foram russos os primeiros objetos arremessados na Lua (Missão Luna 2 - 1959). Em 1966 a Luna 9 executou o primeiro pouso bem sucedido na Lua (até então as sondas se espatifavam).
Eram naves automatizadas, não tripuladas, apenas para experimentar, aprender, treinar, colher dados, escolher os futuros locais de pouso para as missões que levariam astronautas.
Mas o Projeto Apollo progredia, e em 1968 a Missão Apollo 8 levou o primeiro astronauta a orbitar a Lua. Depois de muita dificuldade e superação, enfim os norte-americanos estavam no caminho certo.
Chegou então o grande momento, tão sonhado, que parecia tão impossível: a Missão Apollo 11 tentaria levar os primeiros dois astronautas a pisar na Lua.
Aguardem, eu volto para terminar esta história!
Fernando












Nenhum comentário:

Postar um comentário